Num gesto estético que se constitui simultaneamente enquanto gesto político, esta conferência realizou-se no evento Indirecções Generativas e teve lugar numa estação de caminhos de ferro desactivada de Montemor-o-Novo (6 de Setembro de 2013).
Quem precisa do conceito de performance?
“Precisará o Sul Global do conceito de esfera pública?” interroga-se Boaventura de Sousa Santos em Esfera pública e Epistemologias do Sul.
O conceito de esfera pública, cujas pressupostos teóricos e culturais estão intimamente relacionados com a história da Modernidade Ocidental, reflecte as prácticas políticas da burguesia europeia no início do século XVIII. Estes pressupostos não são necessariamente válidos universalmente, mesmo quando se parecem referir a grandes teorias gerais. De um modo semelhante, podemos então perguntar: precisará o sul global do conceito de performance? A emergência da performance como conceito-chave numa multiplicidade de campos e numa pluralidade de discursos, diz Jon MacKenzie, está directamente ligada com o desenvolvimento das sociedades ocidentais (os EUA em particular) no Pós Segunda Guerra Mundial, o que inclui a ascensão do neo-liberalismo e as transformações nas prácticas de conhecimento, características daquilo a que Lyotard chamou a condição pós-moderna. O que levanta questões semelhantes às levantadas por Boaventura de Sousa Santos a respeito da esfera pública.
Como nos poderemos manter à distância sem “deitar de uma vez só toda esta tradição tão rica para o caixote do lixo da história?” Explorarei as possibilidades abertas pela “duplamente transgressiva sociologia das ausências e das emergências” de Boaventura de Sousa Santos a uma aproximação contra-hegemónica à performance (e, por extensão, aos Estudos de Performance). Para tal servir-me-ei do conceito de “Former West” proposto por Maria Hlavajova nas suas recentes investigações sobre os processos de canonização em Estudos de Performance, e pela crítica empreendida por Chantal Mouffe ao conceito Habermasiano de esfera pública.
Maaike Bleeker é professora de Estudos de Teatro e Directora da Escola de Media e Cultural Studies da Universidade de Utrecht. Estudou História de Arte, Estudos Teatrais e Filosofia da Universidade de Amsterdão, tendo-se espacializado em Visualidade no Teatro, tema da sua tese de Doutorament na Amsterdam School for Cultural Analysis (ASCA). Desde 1991 que Trabalha igualmente como dramaturga em teatro e dança. É autora de Visuality in the Theatre (Palgrave, 2008). Tem publicado extensivamente em revista internacionais da especialidade e editado vários livros dos quais se destacam: Anatomy Live: Performance and the Operating Theatre (AUP 2008). Prepara actualmente uma monografia intitulada Corporeal Literacy e um livro sobre dança e tecnologia digital (intitulado Transmission in Motion). Maaike Bleeker é president da Performance Studies international tendo organizado a conferência internacional da Performance Studies international #17 sob o tema de Camillo 2.0: Technology, Memory, Experience.