Num gesto estético que se constitui simultaneamente enquanto gesto político, as conferências terão lugar em espaços de públicos abandonados (uma piscina municipal fechada, uma estação de caminhos de ferro desactivada).
6 de Setembro | Estação de Caminhos de Ferro desactivada
Quem precisa do conceito de performance?
“Precisará o Sul Global do conceito de esfera pública?” interroga-se Boaventura de Sousa Santos em Esfera pública e Epistemologias do Sul.
O conceito de esfera pública, cujas pressupostos teóricos e culturais estão intimamente relacionados com a história da Modernidade Ocidental, reflecte as prácticas políticas da burguesia europeia no início do século XVIII. Estes pressupostos não são necessariamente válidos universalmente, mesmo quando se parecem referir a grandes teorias gerais. De um modo semelhante, podemos então perguntar: precisará o sul global do conceito de performance? A emergência da performance como conceito-chave numa multiplicidade de campos e numa pluralidade de discursos, diz Jon MacKenzie, está directamente ligada com o desenvolvimento das sociedades ocidentais (os EUA em particular) no Pós Segunda Guerra Mundial, o que inclui a ascensão do neo-liberalismo e as transformações nas prácticas de conhecimento, características daquilo a que Lyotard chamou a condição pós-moderna. O que levanta questões semelhantes às levantadas por Boaventura de Sousa Santos a respeito da esfera pública.
Como nos poderemos manter à distância sem “deitar de uma vez só toda esta tradição tão rica para o caixote do lixo da história?” Explorarei as possibilidades abertas pela “duplamente transgressiva sociologia das ausências e das emergências” de Boaventura de Sousa Santos a uma aproximação contra-hegemónica à performance (e, por extensão, aos Estudos de Performance). Para tal servir-me-ei do conceito de “Former West” proposto por Maria Hlavajova nas suas recentes investigações sobre os processos de canonização em Estudos de Performance, e pela crítica empreendida por Chantal Mouffe ao conceito Habermasiano de esfera pública.
Maaike Bleeker é professora de Estudos de Teatro e Directora da Escola de Media e Cultural Studies da Universidade de Utrecht. Estudou História de Arte, Estudos Teatrais e Filosofia da Universidade de Amsterdão, tendo-se espacializado em Visualidade no Teatro, tema da sua tese de Doutorament na Amsterdam School for Cultural Analysis (ASCA). Desde 1991 que Trabalha igualmente como dramaturga em teatro e dança. É autora de Visuality in the Theatre (Palgrave, 2008). Tem publicado extensivamente em revista internacionais da especialidade e editado vários livros dos quais se destacam: Anatomy Live: Performance and the Operating Theatre (AUP 2008). Prepara actualmente uma monografia intitulada Corporeal Literacy e um livro sobre dança e tecnologia digital (intitulado Transmission in Motion). Maaike Bleeker é president da Performance Studies international tendo organizado a conferência internacional da Performance Studies international #17 sob o tema de Camillo 2.0: Technology, Memory, Experience.
O teatro tem servido de estímulo para acções de protesto, manifestações e revoluções. No entanto, nos assim chamados “novos/novos movimentos sociais” e nos protestos contemporâneos não estará a sua acção para além das performances teatrais? Não deveremos antes falar de performance activism? Ou, tratar-se-á afinal de re-performance ou mesmo de re-enactments, dado que o arquivo, a documentação, a mediatização, para além da presença, se tornaram centrais?Performance activism é assim um sistema rizomático construído por (e em) manifestações de rua, acções de desobediência civil, ocupação do espaço publico e na sua respectiva propagação e difusão na internet. Ou seja, ‘if the revolution will not be televised, will it be downloaded’?
Paulo Raposo é Professor Auxiliar no Departamento de Antropologia do ISCTE e Professor convidado da Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa (2004-2008). Coordena actualmente a Pós-Graduação em Culturas Visuais Digitais do ISCTE-IUL. Foi Presidente da Direcção do Centro de Estudos de Antropologia Social (CEAS/ISCTE), membro da Direcção da Associação Portuguesa de Antropologia (APA, 2004-2009), fundador do Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA, 2007-09), e fez parte da Comissão Editorial da revista Etnográfica (2000-2009). Publicou em diversas revistas e livros nacionais e internacionais. Realizou várias investigações de terreno em Portugal trabalhando sobre temáticas como o corpo, ritual, educação e mais recentemente na área das performances culturais, turismo, património imaterial e culturas visuais. Colabora regularmente com várias estruturas teatrais e performativas.
7 de Setembro | Antiga Piscina Municipal
Nicholas Ridout irá explorar algumas possibilidades que o estudo do teatro Britânico da época do Iluminismo oferece, quando relacionado com ideias, experiências e práticas derivadas da presença do ‘sul’ na tão celebrada, à época, ‘esfera pública’. O ponto de partida para estas reflexões será o texto ‘The Trunkmaker’, publicado por Joseph Addison numa edição de 1771 do The Spectator.
Nicholas Ridout é Professor de Estudos de Performance e de Estudos Teatrais na Queen Mary, University of London. Trabalha sobre a dimensão política do evento teatral como instância da produção cultural e como experiência afectiva e modo de organização social. Contribuiu para variadas revistas da especialidade.
Inúmeros pensadores críticos e activistas hoje em dia olham para o passado em busca de estratégias que lhes permitam desenhar futuros inclusivos (de identidade sexual, de anti-racismo). Pense-se, por ex., no ‘temporal drag’ de Elizabeth Freeman, ou na aproporiação femme-nista de ‘vintage’ de Ulrika Dahl’s. Considere-se nesta perspectiva o estudo de clássicos pós-coloniais como o Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade, de 1928, ou de histórias ‘menores’ (como, por exemplo, as Africanas). Nesta minha contribuição gostaria de interrogar como é que estes saltos anacronistas acontecem. Como é que saltamos para futuros do passado?
Sendo devedora do facto de tanto o pós-feminismo como o pós-colonialismo conterem em si um certo anacronismo (as pós feministas consideraram o feminismo fora de moda e enterraram-no prematuramente; a temporalidade pós colonialista é mais complexa), eu gostaria de tentar uma discussão precisa da noção de ‘geração’. Geração (de acordo com a raíz etimológica genoi) pergunta como podemos classificar ideias e (de genesthai; vir a ser) como essas ideias são geradas e permanecem generativas.
A relação estreita entre genoi e genesthai torna claro que não nos devemos apressar a colocar de parte os padrões da temporalidade linear; indirecções entrecruzam-se com direcções. e Alargar e afinar a noção de ‘geração’, argumentarei, tem potencial para o projecto deste Encontro.
Iris van der Tuin é Professora Assistente de Estudos de Género no Department of Media and Culture Studies na Utrecht University. Trabalha sobre epistemologias feministas e o novo materialismo, escrevendo sobre estes temas para várias revistas da especialidade. É co-directora da organização European Association for Gender Research, Education and Documentation (ATGENDER).
Espaços:
- Antiga Estação dos Caminhos de Ferro
- Piscina Municipal Abandonada